terça-feira, 13 de novembro de 2012

Apelo ao Amor Ameno







"Mas não faz mal, é tão normal ter desamor
É tão cafona, sofredor
Que eu já nem sei se é meninice ou cafonice o meu amor
Se o quadradismo dos meus versos
Vai de encontro aos intelectos que não usam o coração como expressão"





Faço um apelo em favor da simplicidade. Pelo amor ameno. Pelas amizades sem frescura. Na verdade, adoro narrativas calmas. Sejam elas de livros, filmes ou relações.

Vejo o quanto valorizamos gestos efusivos. Declarações de amor aos quatro ventos, presentes ultrassônicos, viagens interestelares  E nessa me questiono para onde vai a delicadeza de ser singelo, de se deixar em paz, de se deixar sentir, em que um abraço sincero é bem mais significativo que sexo tântrico ou beijo de novela.

Você não precisa acreditar que as pessoas e seus sentimentos são sólidos e permanentes. Basta ter fé e assimilar que a vida é muito mais que capa de livro, muito mais que ostentação . A vida é uma incógnita de relações que não sabem se foram feitas pra durar em calmaria ou apenas para serem lembrança, dessas simples, sem laço ou embrulho.

Clarissa Perna

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

BOSSA QUASE NOVA







Que eu não tenha receio de mergulhar em uma história bonita. Não existe certeza pra nada na vida, não existe garantia para amor nenhum.

Que eu entenda que não há saída para a maturidade. Se eu não for protagonista da minha vida, o enredo dos dias decide os próximos capítulos por mim.

Que eu não desperdice energia onde não precisa. Que eu não faça projeções da vida, sejam elas de um passado que me atormenta ou de um futuro que eu não vivi.

Que eu aprenda a dizer “sim” ou “não”, sem esperar nada em troca. Ser generosa com a verdade e simplesmente me posicionar. ”Talvez”, é desculpa dos que se recusam a sair do lugar.

Deu vontade do meu aconchego, de fazer da vida o meu samba-enredo. Em cada gesto de afeto, o pôr do sol procurando teto, coração atento, prosa e alento pro que há de vir.

Desejo a emancipação de todas as mágoas, de todas as taras, de todo prazer. A veia quente pulsando em notas, uma bossa que é nova na vontade de viver.

Clarissa Perna 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Urgências imediatas








(...) Encantadora mesmo é essa coisa de vida. Feliz aquele que vê a felicidade do outro sem ter inveja. Bendita a paz capaz de harmonizar as urgências mais imediatas. Perto do sentido incompreendido das coisas, aceito e agradeço essa transcendência cada vez mais necessária de sorrisos mansos e abraços demorados.

Então em meio aos meus delírios internos constato: A vida é tão boa quando a gente permite que o amor saia pelos poros (...)

Clarissa Perna Filgueiras

Medo de mudar







Muda-se o nível social, o país, o estado civil, até os planos mudam. O sol escaldante de hoje, meses depois vira frio, o grande amor de hoje em um cliq
ue é amigo. Até a natureza tão equilibrada em sua perfeição, muda.

-E por que esse medo de mudar menina? Mudar faz ventar, faz tecer oportunidades. Sei que às vezes quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas. Mas em outras, a vida toma uma direção tão surpreendentemente deliciosa que a mudança vira superação, vira gratidão.

Me de à mão garota e segura firme, bem apertado, feito nó cego. Acredita em mim, mesmo que a esperança vire agulha perdida na areia. Eu te retribuo com o coração escandalosamente inteiro.

Não esquece não viu, somos um retorno constante ao ponto de partida. Ou nos adaptamos às mudanças, ou ficamos ali, parados, esquecidos feito jornal do dia anterior.

Vamos firmar um acordo então menina? Sincroniza seus passos com os meus e acredita na revolução que a mudança pode proporcionar. Sai desse estado de inércia sufocante e vem, que quando o sol chegar a gente muda mais um pouco.

Clarissa Perna Filgueiras

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sintaxe do sexo




                                             

                                                 "sexo heterodoxo, lapsos de desejo
                                            quando eu vejo o céu desaba sobre nós...
                                                 menina deusa urbana, neta do sol
                                             eu sou você e os meus rivais. sou só.."
                                                                                               Caetano


Sintaxe do sexo


Chega de conversa,
vem beijar o cangote do sol
Quero essa mucosa aberta
Seu jeito, seu peito, um farol..

De tudo eu quero torto
Filha da compulsão social
As mãos errantes do Caetano
Bronzeadas,
na frente,
entre,
 indo e vindo,
dentro de mim;

Sou da geração dos distraídos,
Aceito a revolução dos sentidos
O grito que ninguém ouviu.

A sintaxe das línguas perdidas
Poesia caótica, concreta, fugida
A paz quente, de se deixar
fluiu...

Clarissa Perna Filgueiras

Varandas






Para tecer o momento novo, devemos olhar as pessoas mais de perto. Desaprender o caminho. Detalhes que a gente só consegue perceber ao aproximar mais os olhos. Olhos nus. Entre todos os recursos fabulosos que o ser humano possui, um dos mais bonitos é o de renovar o próprio olhar.

Visito com olhos de poesia os territórios dos mais diversos sentimentos. Um respiro improvisado nas saudades aconchegadas. O coração quase nunca receptivo desabrocha ao primeiro olhar de cuidado. 

Abro as minhas varandas e deixo o acaso aproveitar a liberdade. No meu ritmo, escuto o samba de dentro, crio espaço, ajudo a desapertar. E a vida, eterna e descartável, arde em miudezas.

Clarissa Perna Filgueiras

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Prazer tumultuado!!!!










"Que a cada manhã a sua coragem acorde bem juntinho de você, sorria pra você, e o convide para viverem uma história toda nova, apesar do cenário aparentemente costumeiro." Caio Fernando Abreu




Quase que como uma espécie de desabrochar interno, estiquei as angústias e por um tempo fiz delas prisão. A vida vai compensando as métricas imperfeitas, em forma de providência tende a equilibrar os ápices e os abismos, as relações sem nome ou sobrenome, os desencontros e os hiatos.

Êxtases em flor! Meu fado são meus despropósitos, porque a perfeição limita, remenda. Assim crus, assim nus, os meus tormentos fazem amor. Meu coração tumultuado, pobre coitado, trabalha arrepios de prazer sem descanso.

Clarissa Perna Filgueiras

domingo, 5 de agosto de 2012

Incompletude










O sol derramando poesia no horizonte, o dia enfim nascendo tal qual a complexidade agridoce das melodias do Caetano. Eu sou um barco à deriva, enfrentando o caos dos lirismo diários, a vida elucidando o que um dia foi óbvio. Junto minhas rimas e remo...remo...remo....

Estamos presos na ilha da falta de tato com o próximo, falta de tato consigo mesmo. A solidão tornou-se  um alívio, um alento, um lugar seguro. Encontrei um porto nos meus desencontros, tornei-me um território independente que não se deixa em paz.

Ancorei , revirei os meus avessos e descobri que a felicidade é serena. Na permanência das minhas mudanças atesto, que não dá pra impedir a chegada de uma tempestade, e nem evitar a mudança dos ventos e das marés. Mas podemos direcionar nosso barco para um lugar mais bonito.

 Foi assim: na correnteza do dia-a-dia, que  me dei conta da minha incompletude, da minha humanidade tão cheia de excessos, e me encantei !!!

                                                                                                  Clarissa Perna


domingo, 8 de julho de 2012

15 segundos



http://www.youtube.com/watch?v=gQiIfeGWIsU ( escute lendo)


Voltava pra casa, acompanhada do sol, que se punha em tons almodovianos. Junto também a insuportável mania de analisar as músicas que tocavam na rádio. Se você for bem atencioso, quase todas as músicas falam de amor. Numa ponta os não correspondidos, tema talvez de nove entre dez . Noutra, os amores resolutos, resilientes.

Chego em casa, deixo a água escorrer por entre os dedos e espero o dia findar, é justamente nessa hora que somos mais honestos com nós mesmos. Algum recado de alguém bacana no meu computador, meus filmes, minhas músicas e será só isso. Meu maior medo é sentir solidão mesmo bem acompanhada, digo, continuar singular mesmo sendo plural.

"Oh, darling " dos Beatles na vitrola sendo coadjuvante do meu banho, a água percorrendo todo meu corpo, meu ceticismo sendo levado ralo abaixo. Me enxugo com a constatação da beleza de um encontro de almas, de duas pessoas que resolveram viver uma para a outra. Assim sem rodeios, sem cobranças, assim só por que decidiram, só porque acham o mais certo a fazer. O beijo, o cheiro. Covardeando por uns, amando por muitos.

A gente nunca sabe se o amor vai durar o tempo de uma música ou uma vida inteira . Talvez essa "vida inteira" dure apenas 15 minutos. Que podem ser os 15 minutos mais lindos e taquicardíacos da vida de alguém. Descobri que algumas pessoas assim como algumas músicas tem o poder de tornar frações de segundos eTERNAS.


                                          Clarissa Perna

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Gente



Gente que tem cheiro de Deus
de cafuné sem pressa, de amor amigo.
Gente que foi e permanece;
Gente que está e precisa sair;
Gente que eu quero presente;
gente que não faz falta e eu deixo ir;
Gente amiga, gente artista;
Gente acostumada, gente idealista
Gente de instantes,
Gente de horas a fio;
Gente que é animal,
Animal que é gente;
Gente que só complica;
Gente que prefere simplificar;
Gente observando a vida;
A vida observando a gente;
A Vida observando a vida;
Gente observando gente.

Clarissa Perna Filgueiras

segunda-feira, 11 de junho de 2012

"Entre aspas"



"A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa."
                                  Lenine
http://www.youtube.com/watch?v=l9q8eVg2WtQ


Soprou um vento bonito aqui dentro. Um respeito por mim mesma. Compaixão. Paciência. Sou remetente e destinatário dos meus orgasmos mais profundos. Pausa e pressa , acaso e intuição, só o que me interessa.

Escolho o que gramaticalmente transborda. De tanto que transcende, de tanto que é. Milhares de reticências sem um único ponto final. Bossas novas e arranjos usados, por ai ou por alguém (s).

Moro na morfologia das vírgulas, das brisas, e das madrugadas cheias de saudades acostumadas. De fato, abandonei os pretéritos imperfeitos. Agora vivo entre as aspas. Fundas. Pulsantes. Não foram sintaticamente postas por autopiedade. Foi mais. .............................................................Foi amor próprio.


                                                                                                        Clarissa Perna 
                                                                                               



segunda-feira, 7 de maio de 2012

Será que somos eternamente responsáveis pelo que cativamos ?






"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"( A. S. Exupéry)

Nada contra o Pequeno Príncipe e todo o seu teor filosófico, mas essa é uma das frases mais fora de eixo que eu vejo as pessoas propagando por ai.

Somos culpados de que ? De despertarmos paixões? De sermos simpáticos? De sermos doces ? Divertidos? Bonitos? Inteligentes?

Temos o direito de escolher o que queremos e quem queremos. Não admito ser condenada a uma relação eterna, sem que eu queira assumir essa eternidade.

O fato de alguém gostar de você não te torna necessariamente responsável por aquele sentimento, tenha sido o mesmo gerado de forma involuntária ou não.Podemos escolher entre amar e não amar, ser amigo e não ser amigo. Afinal de contas, o amor e a amizade são um risco, um grande e incontrolável risco.

E vocês defensores da frase, que neste momento estão culpando os seus possíveis pares por não retribuírem as suas investidas, desejo-lhes uma chuva de AMOR PRÓPRIO. Não se submetam ao ego dos outros, porque a vida é feita de escolhas e quando alguém quer ficar com você,  te liga, te procura, te surpreende. Não é a culpa por ter cativado alguém que vai determinar uma relação.

Reescrevi a frase com toda licença poética que me foi permitida, e ela ficou bem assim:

_ Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que é recíproco.

Quando o sentimento é recíproco, tudo fica mais fluído.Porque na vida real, eternamente é muito tempo. Amor, amizade, carinho… esses sim exigem cultivo. Reciprocidade gera responsabilidade.Porque muito mais difícil que ficar ao lado de alguém para sempre é ficar por inteiro

VAMOS CULTIVAR RECIPROCIDADES!!!!

domingo, 6 de maio de 2012

Detalhes












"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."


Não há ninguém no mundo que se sinta completamente satisfeito. Vidas cheias de pessoas e vazias de interesses.Os seres humanos estão condicionados à necessidade de um outro alguém. Sentem-se partes incompletas de um enorme quebra-cabeças. Quem vive esperando validação alheia acaba frustrado .


E nessa de ficar guardando a vida pra depois, muitos tornam-se coadjuvantes dela, meras figurações. A vida é um baú de possibilidades. A emoção é o fenômeno mais democrático da espécie humana. Chega a ser imprudente viver sem apreciar esses pequenos detalhes .


                                                                                                Clarissa Perna

domingo, 22 de abril de 2012

Simplicidade

"É preciso simplificar o que pode ser simplificado, é preciso resistir à tentação do consumo exacerbado, mas sem renunciar ao progresso.."

 A complexidade virou regra. Propagamos simplicidade, mas no fundo vivemos recheados de complicações.Egos inflados.Viver virou disputar. Quem aparece mais, a roupa mais cara, o sapato mais bonito, o mais viajado, o lugar mais caro, o marido mais rico..Era do exibicionismo, currículos cheios e mentes vazias.

 Não estou aqui condenando o luxo ou a riqueza. Acho que as nossas conquistas merecem ser usufruídas. Contudo devemos criar parâmetros, distinguir o necessário do supérfluo.

 Luxo, na real, é simplicidade. Não trocaria o pôr do sol, um samba antigo, cerveja gelada e amigos, por festas caríssimas e pessoas influentes. Muito luxo para mim é prisão, é escravidão, e nada tem a ver com felicidade. Vida de aparências? Tô fora!

Sou amante da coisa simples, sem enfeite, sem bajulação. Escolho a liberdade de ser quem eu quiser ser, do que a prisão de viver uma vida de mentira. Não me entendam mal, longe de mim querer ser santa , ou propagar que larguem suas vaidades ou que escolham o desconforto. Também gosto do que é bom, não necessariamente do que é mais caro.

Sejamos enfáticos nas nossas escolhas, entre o luxo excessivo e a vida simplória, fiquemos com o bom senso. 

"Simplicidade é o mais alto grau de sofisticação"

                                                                                                                                   Clarissa Perna

quarta-feira, 4 de abril de 2012

CORAGEM


"Beber as próprias lágrimas hidrata o riso."
[Fabrício Carpinejar]


Um milhão de possibilidades nos conectam as delicadezas desse mundo. Queremos suprir as nossas expectativas a todo custo. É felicidade, é destempero, é gozo. E o que atrapalha é ter toda essa pretensão de querer emoções maduras em sentimentos verdes.

Que a gente siga cultivando um pouco da pureza e da inocência dos tempos de criança.Que os cansaços cotidianos não nos empobreçam. Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.E não em função do porque ou de quem o produziu, mas sim para fazermos revoluções internas.

Estou aprendendo a entender os meus descontentamentos. Hoje eles passam por mim, mas não me atravessam mais. De todos os mecanismos do desassossego, escolho a ousadia.

Que a minha essência possa permanecer em mim. Deixo o excesso de passado de lado e vivo o presente.Veneno e antídoto.Já dizia Clarice:"Ser feliz é uma responsabilidade muito grande.Pouca gente tem coragem."

Desejo-lhes então dias repletos de CORAGEM!!!

Clarissa Perna

segunda-feira, 2 de abril de 2012

EVAPORAR




"Num tropeço pelo avesso,
o destino encontrou comigo,
perdeu o abrigo e EVAPOROU"
Clarissa Perna




"E o que atrapalha é ter toda essa pretensão
De querer emoçoes maduras em sentimentos verdes"
Clarissa Perna






"Dos mecanismos do desassossego, escolho a ousadia."
Clarissa Perna

domingo, 11 de março de 2012

Poesia da falta



"Gosto de borboletas.
Me fazem lembrar que na vida,
tudo se transforma.
Sempre."

http://www.youtube.com/watch?v=0FnfIIXfQcM (escutem)



Um hábito não é uma necessidade,
é o virtuoso acaso do aconchego ,
desenterrando ventanias de maledicências,
dos afagos tomados de medo.

Rimas e cicatrizes retalhadas,
de uma ferida ainda em carne viva,
coração de nuvens negras carregadas,
um casulo de sutilezas feridas.

A bossa de um regresso antecipado,
o recomeço de quem já desistiu,
a presença antes de virar falta,
o caos fingindo que não viu.


Clarissa Perna

domingo, 4 de março de 2012

Entrelinhas




"Eu sempre espero uma coisa nova de mim, eu sou um frisson de espera - algo está sempre vindo de mim ou fora de mim."(Clarice Lispector - Um sopro de vida)


Comecei a crer no poema vivido.
Na antítese das palavras virei MAR.
Escrever é o ato mais profundo que posso fazer,
depois de aMAR.

Descobri que o coração realmente pensa.Como se sentisse.
Gosto das suas arritmias inconformadas.
De quem morre todos os dias de amor
e no amanhecer sobreVIVE.

Nas entrelinhas da vida, estou aprendendo a ser esse MAR. Li dia desses que "é necessário certo grau de cegueira para poder enxergar determinadas coisas". Sigo nesse exercício – que é de sabedoria, mais que de força. Diariamente olho pro céu e invento uma nuvem que chove levezas, bem em cima de mim...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A vida se aprende nas perdas





"Não chame de destino, as consequências de suas próprias escolhas."
Cazuza


Comecei a ser mais gentil comigo. Essa é a minha urgência. Fraqueza não é apatia. Entender não é concordar. Querer não é poder. Tesão não é amor. Colega não é amigo. Bebida não é muleta. Sol não é verão. Trabalho não é escravidão. Esquecimento não é perdão. Disponibilidade não é reciprocidade. Maturidade não é idade. Aprendizado não é dor. Compaixão não é pena. Medo não é dúvida. Rancor não é ódio. Culpa não é arrependimento.Prosa não é poesia.Tempo não é solução.

Alma transbordando verdades, calores, amores, reencontros, bossas e arrepios. Que as pessoas nos permitam proximidades. Que as distâncias nos permitam a saudade.E dessa maneira eu me reescrevo. A vida se aprende nas perdas.

Clarissa Perna

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

TERNURA E ALGODÃO


"Não gosto é quando pingam limão nas minhas profundezas e fazem com que me contorça toda.Os fatos da vida são o limão na ostra?"
(Clarice Lispector - Água Viva )



O que é que importa no fim de cada dia?

Tal questionamento veio aos meus pensamentos antes do sono chegar, exatamente no momento do dia em que me visito. Adormeci lendo Manoel de Barros, como se estivesse em uma praia deserta, como se aquelas palavras me deflorassem,como se a eternidade me invadisse pelos poros.É engraçado como a gente vai florescendo na solidão.

Essa mesma solidão me trouxe os acordes do Cícero :"Ainda não fazem pessoas de algodão...Ainda não fazem pessoas que enxuguem suas próprias mágoas."Pensei..pensei..O que dá trabalho mesmo é viver sempre do mesmo jeitinho.Porque então não ser algodão?

Sejamos essa fibra branquinha que tem o poder de absorver problemas e ultrapassar primeiras impressões.Na primeira impressão não conseguimos avançar além das formalidades e posturas defensivas, das máscaras, da beleza estéril.Primeira impressão é capa de livro, é amor de noitada.Então não filosofa, não tenta entender, não aprofunda, pode ser o ápice ou o abismo, tudo bem.

TERNURA É ALGODÃO.TEMPO É TERNURA, e sim, enxuga mágoas(lágrimas)...


Clarissa Perna

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Ensaio sobre o medo



http://www.youtube.com/watch?v=Q3NDSAxq5-M (leia escutando)


"Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá"

Lenine


"{...}Todo cavalo é selvagem e arisco quando mãos inseguras o tocam."
Clarice Lispector




Nas inúmeras madrugadas de prosa e boêmia, uma afirmação ganhou vida em meio a cigarros acesos e garrafas vazias.Indagado sobre o medo, alguém definiu-o como a ausência de coragem ".

Muitos são os medos contemporâneos. Medo de envelhecer,medo de não dar certo, medo de relacionar-se, medo de não viver um grande amor, medo das ameaças, medo do enfrentamento, medo dos problemas, medo de ser livre, medo de aprisionar-se em vida, medo instintivo de estarmos fazendo algo antinatural, medo da entrega, medo da violência, medo da mudança, medo do olhar do outro, medo da repressão, medo da exposição.Medo é a medida da indecisão.

Acho que, antes mesmo de o medo apresentar-se acompanhado de seus súditos motivos e justificativas, ele explode entre o oculto e quase revelado. Medo é cisma. Medo é agonia.Um desespero faiscante, oscilações freqüentes, cansativas, prazerosas.Tudo ao mesmo tempo ou não, e não necessariamente nessa ordem .

O medo é bom, ruim é o medo de ter medo.Coloque-o em seu peito e deixe-o desabrochar ali mesmo. Suavemente...Se coragem é mesmo a antíse do medo, tenha a consciência de que você tem essa liberdade de escolha.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Uma avenca que partiu: Um ensaio sobre as despedidas...


Leia escutando : http://www.youtube.com/watch?v=Yakt0mo8eJE

"Céu, tão grande é o céu
E bandos de nuvens que passam ligeiras
Prá onde elas vão, ah, eu não sei
E o vento que toca nas folhas
Contando as histórias que são de ninguém
Mas que são minhas e de você também
Ai, Dindí..."

Tom Jobim






O começo do ano me pegou no contrapé, uma avenca despedaçada. O céu encheu-se de um laranja avermelhado,como se ali tivesse tido uma batalha. Batalha essa interna, talvez. Hoje, entre laços de dúvidas, restou-me o caos e a calma; a decepção e a raiva. Tempo esse de um olhar já viciado, já exausto.

Meu coração partiu, p ara outro lugar. O ferimento em si nem dói tanto. A combustão está na mentira. Palavras tão pequenas. Versos sem propósito. Música fora do tom. Frases ditas antes de serem pensadas, assim no susto, assim no nada.O que já foi irretocável não tem mais retoque.


Teu ar sufocou meu canto. Foste ludibriado com suas próprias ilusões.Embora estivesse totalmente sóbrio, estava mergulhado até a lama na embriaguez da sua culpa. Entre uma opinião desconhecida e uma conhecida, vou ficar com quem me conhece, mesmo que não seja favorável a mim, essa é a minha sentença.


Um sonho curto, ruim e mesquinho dentro do meu sonho maior, longo e aberto.Nesse mesmo compasso, a vida torna a correr, rápida, bruta, nua . E eu estou um pouco mais brutalizada. Mexida. Violada. Mas continuo com o olhar para o nascer do sol, pra metade do copo cheio. Cheio de vida, de intensidade, de vísceras, de mel.

Me refaço, me renovo, me destruo e me escasso. Me reconstruo de qualquer fracasso, qualquer dor, qualquer perda de rota. Nessa tarde chuvosa, sem sol , sem luz, tenho a esperança concreta que amanhã o dia vai raiar, pra que eu possa me inventar de novo.

Clarissa Perna

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Vai- te Janeiro !!!


"Além da última estrela
Além da insensatez total
Vão as palavras mais belas
Além do fim do jardim do caos"

Além da Última Estrela



Vai-te Janeiro dos furacões e das chuvas;
das marcas e feridas na lua;
dos retoques de incongruências;
e da insensatez mais pura.

Vai-te Janeiro, dos prédios caídos;
dos escombros empoeirados, do barro;
do silêncio, do fel e do fardo.

Vai-te Janeiro da inconstância nua;
do sexo sem ternura;
da São Paulo rasa e crua;
dos amores irretocáveis de caos.

Vai-te Janeiro do Rio sem samba;
dos términos e das andanças;
da irrelevância de quem faz rima mas não ama.

Vai-te Janeiro, das amarras e das lágrimas;
das relações complexas entre as almas;
dos porres e dos beijos com hora marcada.

Vai-te Janeiro do céu sem estrelas;
Saldando Fevereiro, folião das delicadezas;
tempo das prosas, das bossas e das sutilezas.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Orgasmos e Poesia





http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=vKK2y4lsH0A
Cícero - Pelo Interfone...(ler escutando)

"Fala pra ele
Do disco do tom jobim
Do seu apelido e de mim
Ah, dindi
Se tu soubesses como machuca
Não amaria mais ninguém
Fala pra ele
Que a vida é um balão
Pra cuidar do seu coração.."


Hoje quero saldar essa coisa deliciosa que é o acaso.Esses encontros preenchidos de sutilezas. Saldar o tempo que tem me servido diariamente pequenas doses de normalidade, com pedras congeladas de caos.

Estar dentro de mim é muito vasto. Dentro do meu avesso, da minha lógica bagunçada, afogada, liberta. Dentro desse pensamento safado meus poros sorriem feito loucos.Intensidade, poesia, boemia.

Que bom amanhecer florindo, permitindo, querendo, sentindo, por merecimento ou mero acaso o orgasmo chegar em forma de flor.


Clarissa Perna

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Vicky Cristina Barcelona: Só o amor incompleto pode ser romântico




"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem."
Fernando Sabino


Sempre que vejo os filmes do Wood Allen fico pensativa. Vejo , revejo , transvejo a fotografia, os diálogos, o enredo. Com esse, Vicky Cristina Barcelona, o mais almodoviando dos filmes do Allen, não poderia ser diferente.

Vicky preza a estabilidade no amor acima de tudo. Cristina, por outro lado, não sabe o que quer, mas sabe o que não quer. Sua liberdade , mesmo que ilusória é o seu maior bem.As duas amigas se apresentam como dissonantes no quesito paixões. Na verdade, elas podem ser encaradas como dois lados de uma mesma moeda. À maneira alleniana,Vicky e Cristina encarnam a dualidade do ser humano, que a maior parte do tempo opta por ostentar somente um determinado aspecto de sua personalidade.

Temos inseridos no enredo o clamor pela arte, encarnados na figura do artista Juan Antonio e de sua ex, futura e eterna mulher , Maria Helena. Com traços sôfregos e caóticos eles dão cor e vida ao filme. Uma deliciosa mescla entre o pragmatismo de duas jovens,e a intensidade de dois artistas.

Há também a complexidade das relações humanas, os diferentes conceitos em relação ao amor, o dilema entre as emoções e a consciência, as inconstâncias entre o mundo das artes e da boêmia.De maneira despretensiosa e totalmente direta é possível observar três pontos de vista distintos sobre o mesmo tema, o amor.

O filme é um brinde à vida. Sensibilidade é a palavra chave, o amor como forma de experimentação. Mesmo assistindo-o por incontáveis vezes, uma cena ficou por dias rondando os meus pensamentos. Exatamente a cena em que um dos personagens diz:“Só o amor incompleto pode ser romântico”.

Intriga-me pensar que os grandes amores não tenham futuro, não sejam eternos.O grande amor, o amor arrebatador será sempre aquele nunca realizado, ou nunca vivenciado em sua plenitude.A idealização é sempre mais mágica. Ama-se pelo mistério ou pelo tormento que o outro provoca em nós.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Tatuagem: O corpo que virou papel



Junto al descubrimiento de sí mismo
como indivíduo, el hombre descubre su
rostro, signo de su singularidad y de su
cuerpo, objeto de su posesión”
(LE BRETON, 1995, p. 20)


Dias atrás recebi um conselho e um pedido inusitado de uma senhorinha de cabelos cor de areia, ao ver e tentar analizar minhas quatro tatuagens.

Aquele rosto de experiências marcadas dizia-me bem assim."- O que fazer quando a gente muda e a tatuagem permanece? A marca do ser humano é ser transitório. Tentar fixar na pele uma paixão, um momento, uma filiação, é inútil. As coisas passam, elas nos escapam.
- Minha filha tatue o corpo, mas nunca tatue sua alma!"

Na hora nada respondi.Então é o que tortuosamente tento fazer aqui.

Senhora dos lábios cor de amora, você têm a ilusão de vida eterna. Eu não! As minhas tatuagens não são para sempre, existirão somente até eu morrer.É como se ao menos o corpo ainda fosse esse lugar possível de se apropriar.É a sobrevivência de uma marca permanente em um mundo fatigado de imagens e símbolos tão passageiros.


O tatuador se aproxima, aumenta o contato, a agulha perfura meu corpo, a dor aparece, vestígios de sangue são limpos para que continue a injeção de tinta sobre os pontos demarcados, mudanças contínuas, coloração da pele, traços de tinta começam a aparecer, vida que emana na superfície de um corpo.

Senhora dos olhos de jabuticaba, meu corpo tornou-se papel.Fabrico minha própria transcendência pessoal a cada tatuagem.Mensagem cifrada, simbólica, um teorema existencial colado na pele, a lembrança de algo que estou sendo, já fui ou que deixei de ser, mas continuo sinalizando.Sim, as minhas tatuagens são feitas de corpo e alma e carinhosamente enfatizo: - MAIS ALMA QUE CORPO.

Clarissa Perna

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A(L)titude: Sobre intensidades e arrepios



O dia é calmo. As horas aflitas. A lucidez me enlouquece.Tanta gente querendo se encontrar e eu freneticamente louca pra me perder. Um perder-se no lusco-fusco, no acaso. Acho mesmo que o que faço aqui é um não pensar.


Sou a taurina mais ariana que conheço. O excesso é fundamental. Sou da tribo dos intensos, dos etéreos, dos loucos. Gosto do que tem sabor de pecado, do imoral , do censurado. Falta de juízo e vísceras. Entendeu ?

Estudo todas as manhãs a fisiologia das minhas preocupações. A fatalidade do acaso me parece boa conselheira.Como Clarice tenho a tendência deliciosa de pousar os olhos nas pessoas, nos objetos estáticos, pelo simples prazer de contempla-los SENDO.Desperte-me sentimentos incríveis. Ai então leio-te uma frase, ou um parágrafo. Ou o livro inteiro, se me deixares.

Delicadamente e só por hoje desejo-me vodka e arrepios.Então deixo que a vida aconteça, como sempre acontece…Mais importantes que o leite, são a canela e o mel...eles é que dão o sabor.


Clarissa Perna