domingo, 3 de outubro de 2010

Efeitos secundários da poesia


Acho que nasci de uma gestação convencida e articulada por rótulos e arquivos ;os meus fantasmas; Os quais, durante os 9 meses de incubadora materna foram substituídos por projeções, adormecendo os meus medos com ansiolíticos, adiando os novos com contraceptivos.

Nasci, ou como os mais entusiasmados estreei, certa de que transformara os meus anseios em neblinas. Uma liberdade ridiculamente ilusória, acredito eu, mas todos sabemos que a ilusão também salva; Dentre as milhares de novidades vistas sobre os meus pequenos e embassados olhos, encantei-me com as cores “almodovianas”da minha terra,e aprendi desde então, que precisamos criar a capacidade de apreciar a beleza; é preciso um método, e não um sentir tudo de todas as maneiras.

Desde a defesa do meu anonimato, fui uma criança no inverso de um espelho real, menos corpo e mais alma.Um ser falante um tanto franzina, dessas complicadinhas sabem?Eu andava atrás de mim, sempre atrás de alguma coisa. Estamos, portanto, no plano dos valores infantis.Gostava de ter à distância como parceira, acho que veio daí o meu problema com lugares e pessoas longínquas, com todas as ramificações e contradições do verso.

Fase das mais inesquecíveis, dos banhos de rio, das imersões no mar, dos galhos das arvores, das amizades sem rótulos ou pré concepções.Na verdade acho que nunca devíamos crescer o suficiente para deixarmos de dormir com as nossas amigas, sem malícia, somente ternura.

Como um raio atravessei ilesa essa fase, somente com alguns arranhões e algumas noites e melodias encantadas.Uma época mágica e estranha,ainda o que existiu de mais inovador, era uma tal estabilidade perturbadora.Todos os meus amores foram prematuramente submersos em algumas faces camadas e labirintos.Dei-me a vertigem de pecar.O meu mundinho então ganhou trilha sonora, transcendendo os meus rocks e as minhas bossas.

Teletransportada para a órbita de alguns anos de desequilíbrio,enfrentei alguns complexos e cheguei ao futuro que me parecia mais destilado.Andei um tempo incitando diminutivos, onde a solidão era um esplendoroso alivio, um alento.Nossa como eu quero tudo,tantas coisas, inúmeras, só acho uma pena eu não saber a ordem dos meus desejos.


Estou apenas a contar-te como é que me sinto.Acho que preciso de um coração novo. Um coração com menos entulho, menos barulho, cheio de sutileza e autodedicação.Cara, acordei com uma brutal dor de cabeça. Logo agora que eu ia ser feliz.