terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Tatuagem: O corpo que virou papel
Junto al descubrimiento de sí mismo
como indivíduo, el hombre descubre su
rostro, signo de su singularidad y de su
cuerpo, objeto de su posesión”
(LE BRETON, 1995, p. 20)
Dias atrás recebi um conselho e um pedido inusitado de uma senhorinha de cabelos cor de areia, ao ver e tentar analizar minhas quatro tatuagens.
Aquele rosto de experiências marcadas dizia-me bem assim."- O que fazer quando a gente muda e a tatuagem permanece? A marca do ser humano é ser transitório. Tentar fixar na pele uma paixão, um momento, uma filiação, é inútil. As coisas passam, elas nos escapam.
- Minha filha tatue o corpo, mas nunca tatue sua alma!"
Na hora nada respondi.Então é o que tortuosamente tento fazer aqui.
Senhora dos lábios cor de amora, você têm a ilusão de vida eterna. Eu não! As minhas tatuagens não são para sempre, existirão somente até eu morrer.É como se ao menos o corpo ainda fosse esse lugar possível de se apropriar.É a sobrevivência de uma marca permanente em um mundo fatigado de imagens e símbolos tão passageiros.
O tatuador se aproxima, aumenta o contato, a agulha perfura meu corpo, a dor aparece, vestígios de sangue são limpos para que continue a injeção de tinta sobre os pontos demarcados, mudanças contínuas, coloração da pele, traços de tinta começam a aparecer, vida que emana na superfície de um corpo.
Senhora dos olhos de jabuticaba, meu corpo tornou-se papel.Fabrico minha própria transcendência pessoal a cada tatuagem.Mensagem cifrada, simbólica, um teorema existencial colado na pele, a lembrança de algo que estou sendo, já fui ou que deixei de ser, mas continuo sinalizando.Sim, as minhas tatuagens são feitas de corpo e alma e carinhosamente enfatizo: - MAIS ALMA QUE CORPO.
Clarissa Perna
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