quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um desencontro encontrado




“Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.”


Antoine de Saint-Exupéry



De onde vem essa repentina admiração tão perene? De onde vem essa sensação de poema permanente? De onde vem esse bem-querer assim tão fácil, assim tão fluido, assim tão puro.

Um desencontro encontrado. Escancaradas entre o disponível e o indisponível. A constância e a inconstância. Uma sincronicidade paradoxal.

Olha!!!Eu desculpo a sua covardia visceralmente humana. Paixão não é ciência, paixão é um encontro de almas em estado de poesia .

As nossas verdades estão nesses delírios desencontrados, nesses pronomes possessivos que me arrepiam dos pés a cabeça.Obrigada por ter sofrido e continuar a viver assim tão docemente.

Às vezes o amor quer ferir, e se cura doendo. Se você souber ler nas minhas entrelinhas, entenderás um pouco mais de mim. Leia-me suavemente, porque também sou feita de delicadezas. Leia-me nervosamente pois meu corpo precisa de um pouco de desordem.Por fim leia também os meus olhos, porque eles dizem muito do que eu quero e não devo. E não se esqueça de mandar lembranças ao nosso nascer do sol, as nossas bolhas de sabão e as nossas madrugadas cheias de estrelas. Porque absolutamente tudo agora em mim é urgência.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Samba e outras delicadezas



"Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba o perdão que a despedida
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
O coração de fora
Samba sem querer
Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver"


Chico Buarque



Enquanto houver amor, poesia, saudades, paixões magoadas e bares onde afogar essas mágoas, haverá samba. Conversa de cordas, cadencia maliciosa, musicalidade visceral .

Sobre a mesa cinzeiros cheios e garrafas vazias. Desencontros , afinando sensibilidades.Entre cordas dedilhadas, a elegância moral do Pixinguinha, o lirismo sacana do Cartola e a simplicidade rebuscada do Adoniram Barbosa.

Acho que o samba acontece antes de chegar ao papel. Caótico, distraído, perigosamente despreocupado.Pedacinhos de cotidiano traduzidos por acordes ritmados. A vida batucando delicadezas em todo lugar.

Clarissa Perna

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Chama-te a viver. Um ensaio sobre o calendário, a esperança e a poesia!!!


http://www.youtube.com/watch?v=mwLBz9kH_j4
( Canção Do Amor Que Chegou- Vinicius de Moraes ) escutem!!!


Abençoado seja o inventor do calendário e a sua brilhante ideia de apelida-lo de ESPERANÇA. A intensidade da ocasião em uma folha de papel.

Nesse novo ano sugiro-lhes pés descalços, brisa de mar, fim de tarde sem relógio.Desejos supridos com mais tempo. Há de por leveza nessa alma. Sentirás eternidades de puro orgasmo.Sentirás tão breve, tão borboleta.

Pra trás, os pretéritos imperfeitos. Novas escolhas, novos arrepios, novos olhares, novos sentimentos, aquele descanso na loucura. Sem frases cortadas. Sem censura. Sem traumas. Sem dramas. Sem dores.

Corpo e alma. Às vezes, mais corpo, mais vísceras, mais excitação, noutras mais calma, mais sim, mais sol, mais simples. Chama-te a viver que nesse instante nosso tempo é poesia.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sobre intensidades, masoquismos e desencontros


"Acho que algumas pessoas se apaixonam é pelo desencontro, pela poesia sobre aquele amor que nunca foi correspondido ou que não deu certo."

Marla de Queiroz



Li, reli, “treli” essa frase... Será mesmo que gostamos do incerto, do desequilíbrio, da incompatibilidade de cromossomos?

Muitas paixões só existem pela espera do primeiro desencontro ou pela esperança de um recomeço. Encontros repletos de improvisos e ausências. Somos um tanto masoquistas, revestimos de inércia as nossas vontades. Talvez a maior batalha moderna seja entre o não poder e o querer.

Uma amiga, vivendo dias de música desesperada e em repetição me disse: “Tem coisa mais segura do que viver o que queremos dentro de nossas mentes, sem o risco de nos machucarmos? Quer comodismo maior do que o do ser sofrível, aquele que vive por um problema?

Sei que gostar é conforto, é um afago aos corações mais carentes. Gostamos do forasteiro, do que não é propriedade nossa, pelo simples prazer que o sofrimento nos trás.

Estende esse coração ao sol menina, que é de luz que ele vive. Que ninguém implore afeto.Que os nossos ensaios diários sejam repletos de intensidade e poesia.

Sejamos então comprometidos com o amor-próprio. Gostando você ou não, onde há entrega, o encontro já vem com o mínimo de compromisso.

Clarissa Perna