segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Ainda Bem!!!



Desabrocho nessa manhã de pássaros que cantam pra mim, de nuvens que passam por mim, do sol que acaricia a minha pele feito carinho de Deus.
Gosto da chuva percorrendo o meu corpo, da brisa embalando o meu sono diante de uma semana cheia de atribulações. O barulho das ondas dizendo que a vida quer emoção, leveza e um misto de generosidade, sabedoria e paciência.

Doce serenidade. Assim como essa flor que agora brinco de bem me quer, também me tornei uma fortaleza de espinhos e fragilidades. Sinto que as minhas pétalas voam a procura de terrenos e pessoas férteis, de amor sereno , sambas antigos e abraços demorados. Ainda bem!!



                                                                                                              Clarissa Perna

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A Moça que Virou Flor



"Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida"

Beatriz- Chico Buarque 


A moça vivia a procura de semelhanças: de bocas, de corpos, de colos e pensamentos. Cuidava dos seus abismos como quem cuida do amor. Passava os dias entre malícias e saudades, buscando o equilíbrio de emoções maduras em sentimentos verdes. Mesmo com certa fé, vivia no fio da navalha. Presa a sua própria liberdade, amava cartas de amor e sambas no subúrbio.
De dia moça distinta, a noite uma pluralidade de peles e intimidades. Alimentava a alma com gemidos. Transava todos os dias com a simplicidade, mesmo sendo a personificação do exagero. Roteirizava cenas e relações, maltratando corações alheios com a mesma desenvoltura  que se derretia com mordida na nuca.

Falava de amor, escrevia sobre o amor, mas nunca tinha aprendido a amar. Namorou por muito tempo o desapego e descobriu que tinha o mundo nas mãos, mesmo sem conseguir organizar seus próprios sentimentos. Foi assim, feito flor, que ela desabrochou.

Clarissa Perna 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Busca



https://www.youtube.com/watch?v=eHcopdV49e8 (Fotografia Tom Jobim/ cantada por Vanessa da Mata)

Atravessando fronteiras e civilizações inteiras, na distração dos dias sem hora e sem compromisso, constato na mais absoluta embriaguez de alma que o meu destino é o amor. Estou exatamente onde eu queria estar. É assim que a gente vai amanhecendo, nesse eterno recomeçar.
Nesse exato milésimo de segundo, quero agradecer essa quentura no coração. Tom Jobim cantando fotografia nos meus ouvidos, respiração cadenciada, de dentro de um trem, abraço o pôr do sol mais incrível da minha vida.
 Já não tenho medo do mundo, fotografei o perfume das paisagens, das andanças, das lembranças, dos cheiros, das pessoas, tantas, das mais diversas raças, culturas e opiniões.
Na insignificância dessa tarde de espera, escuto a minha alma e tenho a certeza de que o que eu busco está me buscando também.

Clarissa Perna
Barcelona  20/09/2013

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Mochila, Amores e Aeroportos!!!


Paris, aeroporto Charles de Gaulle, 3 da manhã, próximo destino Barcelona. Não sei por que, mas tenho uma ligação forte com aeroportos, gosto do cheiro, gosto das andanças, gosto do que não se sabe da onde veio ou pra onde vai, reencontros, despedidas, lágrimas e alegrias derramados em todas as cores e línguas, bem aqui na minha frente.
 Encontro-me, bem no meio dessa imensidão de idas e vindas, em um cantinho sem muita luz, nessa cadeira desconfortável, esperando o próximo voo, na companhia do silêncio, da chuva e de muita paz. Lá fora 5 graus e aqui dentro de mim, um domingo ensolarado.
Ultima chamada para o embarque e eu me perdendo por essas linhas. La vou eu, colocar a mochila nas costas e carregar o mundo no coração. Essa história de mochilar me lembra tanto a síntese da vida, me faz ter certeza, que o que me é vital eu consigo carregar na mochila e no coração, no mais, todo o resto é muito , é excesso, atrapalha a leveza  dos meus dias.
Decolamos, rumo a cidade terracota! Cabeça, vontade e espírito com um propósito. Sabe,  se eu pudesse sentir tesão por uma cidade no mundo seria por ela,  a cidade quente,  do Almodóvar e do Gaudi, de alguma forma  mexendo comigo da cabeça aos poros.


 Vem Barcelona, meu dengo, pega minha mochila,  me puxa pelos cabelos e me deixa sentir você!!!

Clarissa Perna
Paris, 18/09/2013

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Conflitos e Gargalhadas








Tanta gente por esse mundão que não se deixa em paz. Cobram demais de si, cobram demais dos outros, cobram demais da vida, cobram por cobrar.

 Casar,descasar, apaixonar, separar, estudar, trabalhar. Coração partido, coração achado, dinheiro,falta dele, velhice,imaturidade, beleza, cicatriz bonita, feia, experiência, aprendizado. Perdemos mais tempo arrumando com o que se preocupar do que vivendo.


Os nossos compromissos não cabem em 24 horas, as nossas opiniões não cabem em uma resposta, as nossas saudades não cabem em uma distância. Então pra que se cobrar tanto ? É preciso exercitar a leveza .Seu humor, seu fígado,seus amigos, sua família e o planeta agradecem ( e eu também rsrsr).

Vamos dar gargalhada de nós mesmos.Precisamos agradecer mais do que estamos acostumados.Caramba, a vida anda passando tão rápido!! Como diria Manoel de Barros, os dias que nos restam merecem ser vistos de azul, sobre outro ângulo, com humor e humanidade.

Vamos aceitar que os problemas existem, mas que as soluções também. Aceitar que nem todos os dias são de verão, mas que podemos nos adaptar a chuva. 
Aceitar que a maturidade é uma construção. Encarar as coisas com seriedade e fazer o máximo que está ao nosso alcance para atingir os resultados, mas aceitar que nem tudo sai do jeito como planejamos.

Acalma, respira, se precisar conte até 3.A felicidade incomoda os outros. Não deixe que ela incomode você.

domingo, 9 de junho de 2013

Anarquista de mim


Hoje termino o dia acertando as contas com a vida. Saldando as dívidas comigo mesma.Tempo de me dar um tempo. 

Arrumei as minhas gavetas, tirei os amores antigos, os dias nublados, e a melancolia que como diria o Tom não sai de mim, não sai...

Sigo no exercício da liberdade de sentir. Escolho a solitude ao invés da solidão. Relações amadores e noites tumultuadas a partir daqui não me acompanham mais.Abro e fecho portas.Nada fica entreaberto.

É um exercício dolorido. Sinto-me como se estivesse sendo tatuada.O ato de ter prazer na dor. De fato, essa é a minha utopia .Sou uma desgovernada cheia de boas intenções. Sem governo, enfim, sou anarquista de mim mesma.

                                                    Clarissa Perna


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Bagagens e despedidas





                                                      (solidão que nada/ Cazuza)




(Minha coisa favorita é ir onde eu nunca estive - Diane Arbus)



Às vezes nossa vida muda drasticamente sem ao menos perguntar se estamos preparados para isso. Certa vez entre uma viagem e outra, entre um aeroporto e outro, li em uma dessas revistas baratas que “um poema é o que acontece quando uma ansiedade encontra uma técnica.”

Nessa mesma revista logo em seguida outra trecho se destacaria aos meus olhos: “(…) Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) — frase de uma carta escrita por Camilie Claudel a Rodín, 
em 1886.

Numa dessas escalas entediantes, juntei minha falta de técnica, a ansiedade constante, as ausências perturbadoras e comecei a desenhar este texto.

Sempre me imaginei fazendo algo extremamente transgressor, meio cena de filme mesmo. Mas a maturidade trás calma e hoje constato com uma absurda e angustiante serenidade (se isso for possível), que as minhas antigas roupas, desculpas e respostas já não são suficientes. 

Não é no grito que eu vou partir, é no silêncio. Talvez seja algo que só o meu íntimo seja capaz de sentir. Talvez, ninguém me entenda melhor do que eu mesma nesse momento…

Meus dias tornaram-se aeroportos. Chegadas e partidas, descobertas e redescobertas, encontros e reencontros, abraços calorosos, a saudade de quem fica e os anseios de quem vai.

Observo com gosto de saudade e torço para que a minha bagagem de dor e ressentimento seja extraviada e que a bagagem de mão, mais intimista, mais próxima, transborde de ternura e gratidão. Sem traumas. Sem dramas. Sem dores.

Pior do que passar frio andando horas nas ruas geladas de qualquer cidade com um inverno rigoroso, seria não ter chegado até lá. Ou nunca ter deixado o aconchego da casa dos meus pais. Mesmo que fosse apenas para descobrir o quanto estar sob as asas deles é bom. Sentir a saudade e a distância para estar bem resolvido sob o meu próprio teto. Vou com a consciência de que tudo é passageiro. 

Se tudo na vida passa, aproveite o instante e deixe passar.


                                                                                          Clarissa Perna

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Poeme-se





De uma chance à poesia.
Ainda existem alegrias gratuitas;
Abraços molhados de pôr-do-sol;
Distâncias muito maiores que as geográficas.
Gente que faz carinho com o olhar.
Um gesto, uma ausência, um relato.
A soma de pequenas razões.
Como diz o Veríssimo, todo mundo é só a ponta de um iceberg.
A gente pode ser maior que qualquer coisa.
Ou só do tamanho da nossa insignificância 
Poeme-se. A vida fica muito mais fácil.



Clarissa Perna

segunda-feira, 25 de março de 2013

Lindeza









Caetano Veloso - Lindeza (escutar)


Somos todos novatos na vida, por isso é sempre tão perturbador olhar pra dentro.
O caminho é exatamente esse: Avenida de palavras, seguidamente desencontradas, que dançam nuas quando o mundo oferece o amor pra brincar.
Escolhi ser abraço, ser afeto, ser pétala. Escolhi ser e ter vontade. 
Minha humanidade cresce latente e minha solidão é só saudade. 
É disso que a minha poesia vive. Acho que eu também...


Clarissa Perna

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Imperfeição








Gostaria de ficar mais um pouco bebendo esse vinho barato, mas os olhares para o lugar que estou ocupando me distraem. Um hiato entre como eu me vejo e como as pessoas me veem. É que eu não falo para ninguém, mas meu coração é de moça. Me apaixono todos os dias por tudo o tempo inteiro,
e me desapaixono logo em seguida. 

O vinil girando ininterruptamente na vitrola. Lá no fundo caetano cantarolando que é "proibido proibir". Penso que nós seres humanos somos uma hipérbole de contradições. Seres dotados de um espaço enorme para a angústia. _ Sabe que as vezes eu sinto uma saudade de mim. São as minhas doses homeopáticas de intensidade.

E assim entre uma taça de vinho e outra, entre um sorriso e outro, fiz paisagens com os meus sentimentos. Mais gosto, mais cheiro, mais tato e ainda mais nitidez. A mente um pouco embebecida e de tanto recitar para mim aquele texto do Manoel de Barros acabei decorando-o : "A maior riqueza do homem é a sua incompletude.." 

E foi na possibilidade da imperfeição que me senti plena.

Clarissa Perna