segunda-feira, 20 de maio de 2013

Bagagens e despedidas





                                                      (solidão que nada/ Cazuza)




(Minha coisa favorita é ir onde eu nunca estive - Diane Arbus)



Às vezes nossa vida muda drasticamente sem ao menos perguntar se estamos preparados para isso. Certa vez entre uma viagem e outra, entre um aeroporto e outro, li em uma dessas revistas baratas que “um poema é o que acontece quando uma ansiedade encontra uma técnica.”

Nessa mesma revista logo em seguida outra trecho se destacaria aos meus olhos: “(…) Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) — frase de uma carta escrita por Camilie Claudel a Rodín, 
em 1886.

Numa dessas escalas entediantes, juntei minha falta de técnica, a ansiedade constante, as ausências perturbadoras e comecei a desenhar este texto.

Sempre me imaginei fazendo algo extremamente transgressor, meio cena de filme mesmo. Mas a maturidade trás calma e hoje constato com uma absurda e angustiante serenidade (se isso for possível), que as minhas antigas roupas, desculpas e respostas já não são suficientes. 

Não é no grito que eu vou partir, é no silêncio. Talvez seja algo que só o meu íntimo seja capaz de sentir. Talvez, ninguém me entenda melhor do que eu mesma nesse momento…

Meus dias tornaram-se aeroportos. Chegadas e partidas, descobertas e redescobertas, encontros e reencontros, abraços calorosos, a saudade de quem fica e os anseios de quem vai.

Observo com gosto de saudade e torço para que a minha bagagem de dor e ressentimento seja extraviada e que a bagagem de mão, mais intimista, mais próxima, transborde de ternura e gratidão. Sem traumas. Sem dramas. Sem dores.

Pior do que passar frio andando horas nas ruas geladas de qualquer cidade com um inverno rigoroso, seria não ter chegado até lá. Ou nunca ter deixado o aconchego da casa dos meus pais. Mesmo que fosse apenas para descobrir o quanto estar sob as asas deles é bom. Sentir a saudade e a distância para estar bem resolvido sob o meu próprio teto. Vou com a consciência de que tudo é passageiro. 

Se tudo na vida passa, aproveite o instante e deixe passar.


                                                                                          Clarissa Perna