"Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida"
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida"
Beatriz- Chico Buarque
A moça vivia a procura de semelhanças:
de bocas, de corpos, de colos e pensamentos. Cuidava dos seus abismos como quem
cuida do amor. Passava os dias entre malícias e saudades, buscando o equilíbrio
de emoções maduras em sentimentos verdes. Mesmo com certa fé, vivia no fio da navalha.
Presa a sua própria liberdade, amava cartas de amor e sambas no subúrbio.
De dia moça distinta, a noite uma
pluralidade de peles e intimidades. Alimentava a alma com gemidos. Transava todos
os dias com a simplicidade, mesmo sendo a personificação do exagero. Roteirizava
cenas e relações, maltratando corações alheios com a mesma desenvoltura que se derretia com mordida na nuca.
Falava de amor,
escrevia sobre o amor, mas nunca tinha aprendido a amar. Namorou por muito
tempo o desapego e descobriu que tinha o mundo nas mãos, mesmo sem conseguir
organizar seus próprios sentimentos. Foi assim, feito flor, que ela desabrochou.
Clarissa Perna