sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A Moça que Virou Flor



"Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida"

Beatriz- Chico Buarque 


A moça vivia a procura de semelhanças: de bocas, de corpos, de colos e pensamentos. Cuidava dos seus abismos como quem cuida do amor. Passava os dias entre malícias e saudades, buscando o equilíbrio de emoções maduras em sentimentos verdes. Mesmo com certa fé, vivia no fio da navalha. Presa a sua própria liberdade, amava cartas de amor e sambas no subúrbio.
De dia moça distinta, a noite uma pluralidade de peles e intimidades. Alimentava a alma com gemidos. Transava todos os dias com a simplicidade, mesmo sendo a personificação do exagero. Roteirizava cenas e relações, maltratando corações alheios com a mesma desenvoltura  que se derretia com mordida na nuca.

Falava de amor, escrevia sobre o amor, mas nunca tinha aprendido a amar. Namorou por muito tempo o desapego e descobriu que tinha o mundo nas mãos, mesmo sem conseguir organizar seus próprios sentimentos. Foi assim, feito flor, que ela desabrochou.

Clarissa Perna