segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A vida se aprende nas perdas





"Não chame de destino, as consequências de suas próprias escolhas."
Cazuza


Comecei a ser mais gentil comigo. Essa é a minha urgência. Fraqueza não é apatia. Entender não é concordar. Querer não é poder. Tesão não é amor. Colega não é amigo. Bebida não é muleta. Sol não é verão. Trabalho não é escravidão. Esquecimento não é perdão. Disponibilidade não é reciprocidade. Maturidade não é idade. Aprendizado não é dor. Compaixão não é pena. Medo não é dúvida. Rancor não é ódio. Culpa não é arrependimento.Prosa não é poesia.Tempo não é solução.

Alma transbordando verdades, calores, amores, reencontros, bossas e arrepios. Que as pessoas nos permitam proximidades. Que as distâncias nos permitam a saudade.E dessa maneira eu me reescrevo. A vida se aprende nas perdas.

Clarissa Perna

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

TERNURA E ALGODÃO


"Não gosto é quando pingam limão nas minhas profundezas e fazem com que me contorça toda.Os fatos da vida são o limão na ostra?"
(Clarice Lispector - Água Viva )



O que é que importa no fim de cada dia?

Tal questionamento veio aos meus pensamentos antes do sono chegar, exatamente no momento do dia em que me visito. Adormeci lendo Manoel de Barros, como se estivesse em uma praia deserta, como se aquelas palavras me deflorassem,como se a eternidade me invadisse pelos poros.É engraçado como a gente vai florescendo na solidão.

Essa mesma solidão me trouxe os acordes do Cícero :"Ainda não fazem pessoas de algodão...Ainda não fazem pessoas que enxuguem suas próprias mágoas."Pensei..pensei..O que dá trabalho mesmo é viver sempre do mesmo jeitinho.Porque então não ser algodão?

Sejamos essa fibra branquinha que tem o poder de absorver problemas e ultrapassar primeiras impressões.Na primeira impressão não conseguimos avançar além das formalidades e posturas defensivas, das máscaras, da beleza estéril.Primeira impressão é capa de livro, é amor de noitada.Então não filosofa, não tenta entender, não aprofunda, pode ser o ápice ou o abismo, tudo bem.

TERNURA É ALGODÃO.TEMPO É TERNURA, e sim, enxuga mágoas(lágrimas)...


Clarissa Perna

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Ensaio sobre o medo



http://www.youtube.com/watch?v=Q3NDSAxq5-M (leia escutando)


"Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá"

Lenine


"{...}Todo cavalo é selvagem e arisco quando mãos inseguras o tocam."
Clarice Lispector




Nas inúmeras madrugadas de prosa e boêmia, uma afirmação ganhou vida em meio a cigarros acesos e garrafas vazias.Indagado sobre o medo, alguém definiu-o como a ausência de coragem ".

Muitos são os medos contemporâneos. Medo de envelhecer,medo de não dar certo, medo de relacionar-se, medo de não viver um grande amor, medo das ameaças, medo do enfrentamento, medo dos problemas, medo de ser livre, medo de aprisionar-se em vida, medo instintivo de estarmos fazendo algo antinatural, medo da entrega, medo da violência, medo da mudança, medo do olhar do outro, medo da repressão, medo da exposição.Medo é a medida da indecisão.

Acho que, antes mesmo de o medo apresentar-se acompanhado de seus súditos motivos e justificativas, ele explode entre o oculto e quase revelado. Medo é cisma. Medo é agonia.Um desespero faiscante, oscilações freqüentes, cansativas, prazerosas.Tudo ao mesmo tempo ou não, e não necessariamente nessa ordem .

O medo é bom, ruim é o medo de ter medo.Coloque-o em seu peito e deixe-o desabrochar ali mesmo. Suavemente...Se coragem é mesmo a antíse do medo, tenha a consciência de que você tem essa liberdade de escolha.